A diferenciação profissional é fundamentada em um tripé:
O aprendizado individual através da leitura de livros e artigos, busca na internet, participação em trabalhos científicos, aulas, cursos e congressos.
O que trocamos com os outros profissionais da nossa área, seja no próprio ambiente de trabalho, à distância ou em sessões clínicas.
O que trocamos com profissionais de outras áreas.
Um fator que limita muito o aprendizado da radiologia musculoesquelética é que muitos consideram suficiente apenas a troca com outros profissionais da mesma área. Claro que é muito bom trocarmos experiências e conteúdo com quem faz a mesma coisa que nós e com quem nos identificamos. É reconfortante saber que nossos problemas e dificuldades não são exclusivos e que outras pessoas passam pelas mesmas situações.
O problema está em achar que isso basta e que pode substituir os outros pilares fundamentais para o aprendizado: o conhecimento teórico (que inclui anatomia, técnica radiológica, variantes do normal, pitfalls, patologias, quadro clínico e tratamento) e o contato com profissionais de áreas diferentes. Não existe exame que prescinda de embasamento teórico e é fundamental para o radiologista interagir com os médicos solicitantes.
Por sua vez, muitos profissionais de outras áreas se consideram autossuficientes em relação aos exames de imagem, criando um círculo vicioso de isolamento em suas respectivas especialidades. No trabalho “Radiologists as Co-Authors in Case Reports Containing Radiological Images: Does Their Presence Influence Quality?” (American College of Radiology, 2019 Apr;16:526-527) os autores demonstraram que apenas 21% de 400 relatos de caso analisados contendo imagens tiveram a presença de um radiologista como co-autor, o que afetou significativamente a sua qualidade. Assim como ocorre nos trabalhos científicos, a troca entre as diferentes especialidades também é muito inferior ao desejado no dia a dia do radiologista musculoesquelético.
É preciso considerar que a troca exclusivamente intradisciplinar tem algumas limitações importantes:
- Nem sempre é factível, uma vez que nem todos trabalham em centros de referência ou em locais com outros especialistas; muitos trabalham isolados, sem oportunidade de contato direto com outros profissionais no ambiente de trabalho.
- O recurso da revisão de laudo, em tese, facilitaria a troca de conhecimento. Entretanto, nem sempre há feedback de fato na revisão, uma vez que muitos ficam constrangidos em sinalizar os erros de outros, e a tendência atual são os exames cada vez mais terem leitura única ou serem revisados por um não especialista.
- Muitas vezes discutir com pessoas da mesma especialidade se assemelha ao que fazíamos na época de estudante, quando comentávamos as respostas das provas com os demais colegas de turma antes de sair o gabarito. Quando as respostas eram as mesmas acreditávamos que nossa nota seria alta, mas quantas vezes a maioria não estava equivocada? A discussão interdisciplinar trás outras formas de visão sobre o assunto e um senso crítico difícil de obter apenas com as pessoas da mesma especialidade. Além disso, esse contato fornece informações sobre o caso (resultado de biópsia, achados cirúrgicos, discrepâncias entre o laudo / imagens e exame físico / cirurgia) que dificilmente o radiologista tomaria conhecimento se não fosse pelo retorno no médico assistente.
- Por mais que o médico solicitante tenha a vantagem de conhecer a história clínica do paciente, os achados de exame físico e os resultados de outros exames complementares e o cirurgião tenha conhecimento da anatomia e da aparência das lesões, a avaliação seccional é diferente da visão cirúrgica e existem muitas particularidades nos exames de imagem que podem levar a má interpretação, mesmo por quem tem experiência.
O radiologista saber das necessidades dos médicos assistentes e o que muda para a conduta e prognóstico melhora imensamente a qualidade do laudo, assim como o ortopedista interagir com o radiologista faz com que as solicitações de exames sejam mais precisas, com melhor custo-benefício e evita muitos erros diagnósticos.
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