A principal função de um padrão é criar uma comunicação universal eficiente, facilitando o entendimento entre as diversas especialidades.
No caso dos laudos radiológicos, facilita a comunicação com o médico solicitante, que se acostuma com o padrão da clínica e entende mais facilmente os laudos. Evita também o retrabalho que ocorre quando há revisão de laudos completamente diferentes, perdendo seu propósito de minimizar erros diagnósticos e com impacto negativo na remuneração médica. Mas existem também outras vantagens:
- Um padrão eficiente ajuda na confecção do laudo, funcionando tanto como “checklist”, evitando que estruturas sejam esquecidas, como ajudando a formar um raciocínio clínico mais coerente baseado em “causa e consequência”.
- Ter um padrão para descrever as alterações mais frequentes também ajuda muito no ritmo da produção. Já termos em nossa mente um formato evita que percamos tempo pensando em como organizar o laudo, revertendo esse tempo para procurar alterações nem sempre óbvias, como corpos livres, fragmentos meniscais, lesões condrais, etc.
- A comparação com exames anteriores feitos na mesma instituição também fica muito mais ágil quando existe um formato comum.
- Quando há um formato pré-estabelecido existe também uma estrutura que pode ser constantemente aperfeiçoada sempre que houver alteração em alguma terminologia, for verificado que alguma frase pode propiciar mal entendidos, for detectado algum erro gramatical, surgir nova demanda específica, etc. E com essas modificações sendo repassadas para o grupo, com o tempo todos também estarão aprimorando seu laudo, que se torna dinâmico, evitando a estagnação e que formatos que já se tornaram obsoletos continuem existindo desnecessariamente.
Entretanto, o fato de existirem padrões não significa que os exames com o mesmo tipo de alteração sejam iguais. Uma distorção frequente em nosso meio é o uso de “frases coringa”, ou seja, frases que parecem se encaixar em qualquer situação, mas que nem sempre refletem a realidade daquele paciente. Existem diversos exemplos, como considerar que todo tendão com tendinose está “espessado”, quando na maioria das vezes ele mantém a espessura normal ou até está afilado secundário a lesão parcial, que não é descrita. Não é raro também nos depararmos com laudos que descrevem todas protrusões discais de forma idêntica, sempre exercendo efeito compressivo sobre o saco dural, sendo que muitas vezes existe gordura epidural entre a protrusão de L5-S1 e o saco dural.
O uso excessivo de “frases coringa” levou também ao equívoco de considerar os laudos de articulações “rápidos” e bons para “fazer volume”, uma vez que para muitos radiologistas os laudos ficaram restritos a poucas frases iguais replicadas indiscriminadamente para todos os casos.
Devemos buscar um padrão, mas isso não significa que todo exame não deva ser analisado criteriosamente como único. O pré-julgamento decorrente de outro achado, como “se tem protrusão logo existe algum efeito sobre o saco dural"; "se existe tendinose logo existe espessamento tendíneo"; "se existe artrose logo existe redução do espaço articular”, etc., leva a muitos erros diagnósticos e perda da credibilidade na especialidade. Devemos buscar ativamente as alterações e descrever exatamente o que estamos vendo, usando o padrão apenas como base que deve ser adaptada a cada caso.
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