Dr. Herbert L. Fred, professor do Centro de Ciências de Saúde da Universidade do Texas, publicou há mais de 10 anos no Texas Heart Institute Journal um editorial abordando problemas na profissão médica que, infelizmente, ainda se mantém atuais.
Ele compara dois momentos da formação médica nos Estados Unidos: após a década de 70, época em que começou a florescer a “medicina high-tech” (de alta tecnologia), onde essencialmente a anamnese e o exame físico são ignorados, passando diretamente a uma série de exames de imagem, raramente despendendo tempo suficiente para conhecer seus pacientes e avaliar criticamente as informações que obtêm para criar um plano de tratamento consistente, com o seu próprio treinamento na década de 50, quando aprendeu a medicina “high-touch” (do toque), baseada na anamnese cuidadosa, exame físico e avaliação crítica das informações para, só em seguida, determinar se há indicação de exames complementares.
Ele considera este comportamento pós-tecnológico uma doença, que denomina “hyposkilia” - a deficiência das habilidades clínicas, que põe em perigo o público que atendemos e nos faz perder autonomia, prestígio e profissionalismo. Ele aponta algumas causas, como as mudanças nos valores sociais, pressão por maior número de atendimentos, o contato limitado entre corpo docente e estudantes, acrescidos à pressa e ansiedade tão comum nos dias atuais, em que a ordem processual natural acaba atropelada visando “maior agilidade” no fluxo de atendimento.
O texto é bem contundente, voltado para médicos assistentes em geral (texto original na íntegra no link para o artigo em PDF) onde Dr. Herbert questiona quantos exames de imagem desnecessários poderiam ser evitados apenas se houvesse uma boa anamnese, exame físico e se os exames laboratoriais fossem analisados antes da solicitação de exames de imagem mais sofisticados, problema que o radiologista enfrenta constantemente ao se deparar com exames mal indicados e/ou faltando informações básicas na solicitação.
Entretanto, a radiologia também não está livre da “hyposkilia”, uma vez que o raciocínio clínico e análise criteriosa estão muitas vezes sendo substituídos por descrições sem embasamento ou conhecimento que em nada agregam para o diagnóstico e conduta dos pacientes, como se o único papel do radiologista fosse descrever imagens.
Se em 2005 Dr. Herbert já pregava a importância da volta do humanismo, isso ainda é mais urgente agora, quando estamos em um novo patamar de avanços tecnológicos, onde o trabalho mecânico, pouco conclusivo e impessoal pode ser facilmente substituído por máquinas ou profissionais à distância e de qualquer lugar do mundo. Esse tema tem crescido em importância nos últimos anos, como foi abordado pelos autores Gunderman e Chou cujas colocações foram discutidas no blog http://www.mskrad.com.br/blog/perfil-do-radiologista-e-adaptacao-a-ia.
O resgate da medicina mais humana, que coloca o paciente em primeiro lugar, é o que nos ajudará na nova revolução tecnológica e nos permitirá evoluir em vez de substituir uma deficiência por outra. E é também nosso papel como especialistas auxiliar os médicos assistentes como consultores confiáveis, ajudando-os no diagnóstico e a solicitar exames de imagem com mais critério, o que tem grande impacto no uso mais racional dos recursos e nas políticas econômicas de saúde pública e privada.
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