top of page

Lições da Hanseníase


Em 2017 tive a oportunidade de conhecer o Museu da Lepra (Lepramuseet) na cidade de Bergen, na Noruega, onde em 1873 o médico e botânico norueguês, Gerhard Henrik Armauer Hansen, descobriu e isolou agente causador, o Mycobacterium leprae, também conhecido como bacilo de Hansen, dando início a um novo conceito e melhor compreensão da doença, o que permitiu o seu tratamento adequado e cura.




A Noruega tornou-se um exemplo de saúde pública, conseguindo erradicar a doença, enquanto que em 2016 o Ministério da Saúde registrou no Brasil mais de 28.000 casos novos da doença, sendo o segundo país do mundo com mais casos, atrás apenas da Índia.


A hanseníase é uma das doenças mais antigas do mundo e, por sua característica deformante, foi considerada por muitos séculos como uma forma de “castigo divino”. Essa reputação equivocada e a falta de conhecimento sobre o contágio levou a uma séria de ações ineficazes, como estigmatizar os pacientes que eram isolados da sociedade e obrigados a usar roupas características e soar uma sineta para avisar os sadios de sua aproximação. Na França da idade média eram realizados os “Rituais de exclusão”, em que um padre colocava punhados de terra do cemitério na testa do indivíduo para simbolizar que ele estava morto para o mundo.


O conceito inicial de que a doença era um castigo, hereditária ou altamente contagiosa sem possibilidade de cura fez com que não se oferecesse nenhuma forma de tratamento além de isolar os pacientes em leprosários e asilos onde eram entregues à própria sorte.


Ao passar pelos corredores e quartos dos doentes vi que podemos aprender muito com a história dessa doença:

- Não acreditar demais no que “achamos”

- Não repetir informações e atitudes que nos foram passadas sem passar pelo filtro do questionamento

- Recursos tecnológicos de ponta não compensam a falta do conhecimento básico


Um dos pilares da evolução é o questionamento. O exercício socrático constante do questionamento nos permite sempre reavaliar nossos pensamentos ao nos perguntar:


- O que é de fato ... (um exame rápido, um exame fácil, um valor justo, um bom emprego, etc.)?”

- Como você define um exame e um laudo bons? Se baseia em que critérios?

- Que habilidades e conhecimento mínimos uma pessoa necessita antes de laudar um determinado exame?

- O que você quer dizer e como pode ser entendida essa frase no laudo? Há alguma outra explicação para determinado achado na imagem?


Colocando as informações que recebemos e nossas afirmações não comprovadas como hipóteses em vez de verdades absolutas conseguiremos melhorar muito o cenário da medicina em geral e do futuro da radiologia.

Comentários


bottom of page