Os erros diagnósticos mais frequentes em radiologia são os de percepção (a alteração está presente, mas não é identificada, podendo ocorrer independente do nível de experiência) e os de interpretação ou cognitivos (a alteração é detectada, mas sua importância não é compreendida ou é sub ou superestimada resultando no diagnóstico final incorreto). Exemplos dos erros mais comuns e como reduzir sua ocorrência:
1. Condescendência com a má qualidade técnica do exame
É papel primordial do radiologista evitar que exames de má qualidade se tornem o padrão habitual. Ao nos acostumarmos com exames ruins não percebemos que a baixa resolução, gap/espessura inadequados, falta de determinada sequência ou administração de contraste podem nos fazer deixar de identificar uma alteração importante.
2. Não inclusão da alteração dentro do campo de visão do exame
Nem sempre a lesão respeita o que estabelecemos como o FOV de cada articulação. Não só a alteração pode não ser incluída por estar em localização mais “periférica” ou o exame pode ter sido marcado com FOV reduzido demais ou mal posicionado. Para evitar esses problemas é fundamental avaliar o pedido médico antes do inicio do exame e não se basear apenas no título do exame autorizado. E, sempre que possível, colocar marcador cutâneo na região da queixa do paciente para garantir a inclusão da área de interesse.
3. Falta de informação sobre o caso
A análise isolada das imagens sem conhecimento do contexto clínico ou do histórico do paciente (se já foi submetido a procedimentos, sofreu trauma ou possui doença sistêmica) é uma causa frequente de falsos negativos, falsos positivos e verdadeiros positivos mal interpretados (a alteração é identificada, mas é equivocadamente atribuída a outra causa). Anamnese, utilização de questionários, contato com médicos assistentes e orientação sobre a importância de pedidos médicos contendo a suspeita e informações clinicas importantes ajudam a reduzir esses erros.
4. Falta de conhecimento sobre o assunto
Por definição, “laudo é um relatório emitido após análise de uma determinada situação por profissional habilitado sobre a matéria, visando um diagnóstico e fornecimento de informações relevantes que irão influenciar na conduta”. Portanto, a mera identificação superficial de “achados” não é o que se espera de um laudo fornecido por profissional especializado. É importante que os achados sejam colocados dentro do contexto clínico e acrescentem informações para o diagnóstico correto e definição da conduta terapêutica.
5. Falha na comunicação
Às vezes uma alteração é detectada e corretamente interpretada, porém não é descrita de forma que o medico assistente receba a mensagem corretamente. Precisamos lembrar que o laudo não é para radiologistas, é para um médico de outra especialidade e também outros profissionais, como fisioterapeutas e preparadores físicos. Por isso, devemos ser claros nas descrições, evitando termos exclusivamente radiológicos, assim como descrições vagas e confusas e terminologia desatualizada. Segundo Bruno e cols.1 “Do ponto de vista do paciente, o resultado é o mesmo se o radiologista omitir no laudo um achado importante ou se a importância do achado não for efetivamente comunicada para o solicitante devido a estrutura confusa do laudo, má organização, má escolha das palavras ou vocabulário, ou até mesmo erros de gramática ou pontuação”.
6. Satisfação da busca
Encontrarmos uma alteração que justifique a clínica do paciente pode fazer com que nos demos por satisfeitos e não busquemos outros achados que também podem ser relevantes e até mais importantes que o detectado inicialmente. A melhor forma de evitar esse tipo de erro é a adoção de checklist – mesmo encontrando uma alteração devemos continuar a analisar as imagens com método para que nenhuma lesão seja negligenciada.
7. Ignorar exames prévios
A análise dos exames anteriores nos traz mais informações sobre o caso, permite análise evolutiva, reduz a ocorrência de falsos negativos e evita problemas de comunicação que muitas vezes ocorrem pela presença de laudos discrepantes entre diversos exames que confundem o médico solicitante e o paciente.
8. Satisfação do laudo anterior
Exames anteriores são muito úteis, mas também não estão livres de erros. Uma alteração já presente e não detectada ou interpretada de forma incorreta no exame prévio pode continuar negligenciada ou descrita da mesma forma no exame atual, persistindo o erro. Devemos sempre ser críticos com os laudos prévios (mesmo se forem nossos) e adotar o checklist em todos os exames e não só no primeiro, até porque podem também surgir alterações novas.
9. Condições de trabalho insatisfatórias
Fadiga visual, ritmo de trabalho excessivo, falta de motivação, excesso de interrupções e distrações comportamentais (como uso excessivo de mídias sociais) aumentam consideravelmente a chance de erro.
10. Viés cognitivo
Viés cognitivo é definido como um padrão replicável de distorção da interpretação, julgamento inacurado e interpretação ilógica, onde já iniciamos a interpretação de um exame com ideias pré-concebidas. Um exemplo é assumirmos de antemão que uma RM de coluna lombar de um paciente jovem não deve ter nenhuma alteração relevante. Outra situação semelhante é quando o paciente já possui determinado diagnóstico e todas as alterações passam a ser atribuídas automaticamente sempre à mesma etiologia. Ou nos precipitarmos no diagnóstico antes de termos dados suficientes que corroborem a hipótese. Muitas vezes também nos deixamos influenciar por fatos recentes, como um erro diagnóstico ou a leitura de um artigo que nos induz a determinado diagnóstico a despeito da baixa probabilidade naquele caso. Uma estratégia para evitar este tipo de erro é sempre considerar diagnósticos diferenciais e não se limitar a buscar evidências que confirmem a primeira impressão, mas também buscar achados que refutem a hipótese inicial, que deve ser sempre reconsiderada se algum aspecto não se encaixa.
Literatura sugerida:
1. Bruno MA, Walker EA, Abujudeh HH. Understanding and Confronting Our Mistakes: The Epidemiology of Error in Radiology and Strategies for Error Reduction. Radiographics 2015;35(6):1668-76. doi: 10.1148/rg.20151500
2. Lee CS, Nagy PG, Weaver SJ, Newman-Toker DE. Cognitive and system factors contributing to diagnostic errors in radiology. AJR 2013;201(3):611-7. doi: 10.2214/AJR.12.10375.
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