Apesar de muitas vezes utilizarmos os termos “conceito” e “definição” como sinônimos, é importante ressaltar que há uma diferença considerável em seus significados.
A palavra definição surgiu do termo em latim definitione, que significa “enunciar os atributos essenciais e específicos (de uma coisa), de modo que a torne inconfundível com outra”. Para estabelecer uma definição, parte-se do pressuposto que o que queremos definir é constituído por características únicas, uma “natureza” ou “essência”, a qual pode ser identificada e permite estabelecer a diferença entre as demais coisas do mundo.
A definição é definitiva, é uma verdade universal, pelo menos até que se prove cabalmente que há algum erro nela. Portanto, a abordagem da definição é essencialista, ou seja, determinada pela essência do que queremos definir. A definição demarca linguisticamente o conceito, pondo em palavras o seu significado. Por isso, uma definição costuma ser criada por consenso entre experts no assunto e está disponível em dicionários, livros, artigos, documentos, etc.
A palavra conceito surgiu do termo em latim conceptus, que significa “coisa concebida” ou “formada na mente”, podendo ser expresso como uma ideia, noção ou concepção sobre algo que surgiu pelo pensamento de alguém. É a maneira como compreendemos e pensamos sobre algo. Logo, o conceito pode variar de pessoa para pessoa e pode ser classificado de acordo com nossa opinião. O conceito é portador de significado e pode ser contestado, acrescentado, modificado, ou seja, não é uma verdade universal. Ao estabelecer um determinado conceito, parte-se do pressuposto que ele não é dotado de uma essência, ou seja, não é determinado por atributos substanciais e universais, mas por sua relação com inúmeras variáveis de um dado ambiente (contexto) no qual ele está inserido (usos, costumes, possibilidades técnicas, etc.). Trata-se de um olhar contextual e, portanto, não é definido por experts.
Por exemplo, a definição de gato seria pequeno mamífero carnívoro da família dos felídeos, conforme definido pelos zoólogos. Já o conceito de gato no Egito antigo era divindade, atualmente para muitas pessoas é de animal de estimação, enquanto para outras é causa de alergia e fonte de doenças.
A diferenciação entre definição e conceito tem implicações tanto no ensino quanto na confecção dos laudos, uma vez que memorizar uma definição não garante a compreensão das relações envolvidas. A aprendizagem de conceitos é algo complexo, pois implica simultaneamente a relação com outros conceitos. O conhecimento científico sozinho, desvinculado de contextos que lhes deem sentido, tornam-se apenas conhecimento enciclopédico.
Portanto, na confecção dos laudos não devemos nos apegar apenas às definições, ainda mais porque na literatura encontramos algumas discrepâncias e existem sinônimos usados preferencialmente por diferentes especialidades e também diferenças entre as diversas regiões do país (como acontece no caso da tangerina, bergamota, mexerica e mimosa, que, por definição, são a mesma fruta, mas com nomes diferentes por diferenças regionais). A busca pelas definições corretas é o primeiro passo para criarmos um conceito, devendo ser levado em conta que, como o conceito tem um significado que varia entre as pessoas, nem sempre o entendimento será o que temos a intenção de passar nas descrições das alterações, já que podem existir diferenças conceituais entre quem confecciona e quem lê um laudo.
Por exemplo, nódulo e formação nodular têm a mesma definição, a de pequena lesão sólida arredondada. Entretanto, muitos médicos e pacientes tem como conceito de “nódulo” uma lesão que pode ser maligna, enquanto que “formação nodular” costuma ser entendido como uma alteração que pode até nem mesmo ser um nódulo, apenas se assemelha a um pelo formato arredondado. Da mesma forma, “fáscia muscular” e “epimísio” são sinônimos, mas nem todos conhecem o termo “epimísio” e alguns podem confundir com termos semelhantes, como perimísio, ou até criar termos que não existem na literatura, como ‘paramísio’. Por isso, mesmo que mais de um termo esteja correto, muitas vezes existe um que seria mais recomendado, pois não devemos apenas nos preocupar se a definição em si está correta, mas também se o entendimento da palavra está mais ou menos alinhado com diferentes conceitos.
Para confeccionarmos bons relatórios como especialistas devemos ter bom conhecimento das definições na literatura, não se atendo só aos textos da nossa especialidade sobre o tema. Diversificar a leitura nos permite entender melhor os diferentes conceitos, adquirindo maior embasamento para formular os próprios conceitos e determinar condutas – qual o melhor termo para usarmos nos laudos? O entendimento será o mesmo independentemente da especialidade do médico solicitante ou qualquer outro profissional que o paciente porventura procure? Pode gerar dúvidas ou mal entendidos? Podemos usar em todas as situações? Em caso de exames comparativos, o laudo vai facilitar ou complicar a comparação? Ou seja, a conduta seria a união entre definição e conceito, que leva a uma diretriz a ser seguida, tornando o trabalho muito mais produtivo e eficiente.
Tendemos a discutir muito as definições e os diagnósticos, deixando os conceitos em segundo plano, sendo que estes deveriam receber muito mais da nossa atenção se quisermos ser bem compreendidos, otimizar nosso fluxo de trabalho e nos tornarmos profissionais melhores.
"Entre falar e se fazer entender existe um grande abismo."
Agni Shakti, escritora
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