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Errei logo no músculo!


Os erros diagnósticos mais frequentes em radiologia são os de percepção (a alteração está presente, mas não é identificada, podendo ocorrer em qualquer nível de experiência) e os de interpretação ou cognitivos (a alteração é detectada, mas não é interpretada corretamente).


E as lesões musculares estão entre as principais causas de erros nos exames musculoesqueléticos. Veja aqui as principais:


1- Esqueci do músculo!

Existem exames em que a avaliação muscular já é automática, como nos exames da coxa e da perna. Mas, muitas vezes, esquecemos de olhar atentamente os músculos em diversos exames, como nos exames de coluna, abdome, tórax, seios da face, etc. Isso ocorre porque o músculo não costuma ser o foco principal e também porque não é tão frequente encontramos alterações musculares relevantes nesses exames. Mas isso não quer dizer que elas não existam... Em um exame da coluna ou do abdome podemos nos deparar com o abscesso no músculo psoas e em um exame da pelve com um foco de endometriose no reto abdominal ou com tumor muscular. O checklist deve incluir a avaliação muscular em todos os exames.


2- A satisfação da busca

Encontrarmos uma alteração que justifique a clínica do paciente pode fazer com que nos demos por satisfeitos e não busquemos outros achados que também podem ser relevantes e até mais importantes que o detectado inicialmente. A melhor forma de evitar esse tipo de erro é a adoção de checklist – mesmo encontrando uma alteração devemos continuar a analisar as imagens com método para que nenhuma lesão seja negligenciada.


3- O “canto da chapa”

Esse termo era muito usado na época em que só existia a radiologia convencional – era muito mais fácil deixar passar uma alteração quando ela se localizava nas extremidades da radiografia (nos “cantos da chapa”) em comparação com as alterações mais centrais. E isso também ocorre nas imagens digitais, tanto nas alterações mais periféricas (que podem também ficar ocultas quando damos muito “zoom”), quanto nas que aparecem nas primeiras e últimas imagens de cada série. E não é raro a alteração do músculo ocorrer nas porções mais proximal ou distal, ficando nas extremidades das imagens, muitas vezes não sendo incluída totalmente nos exames.


4- Condescendência com a má qualidade técnica do exame

É papel primordial do radiologista evitar que exames de má qualidade se tornem o padrão habitual. Ao nos acostumarmos com exames ruins não percebemos que a baixa resolução, gap/espessura inadequados, falta de determinada sequência ou administração de contraste podem nos fazer deixar de identificar uma alteração importante. E no caso de muitos músculos, é importante nos atentarmos ao posicionamento e marcação dos exames para que as extremidades da imagem não fiquem distorcidas.


5- Achar que todo edema muscular é estiramento

Existem dois vieses cognitivos que induzem a esse pensamento: um é conhecido como a “heurística da disponibilidade”, que reflete a tendência de sermos indevidamente influenciados por experiências que nos lembramos mais facilmente apenas por estarem mais “disponíveis” à memória. Ou seja, julgamos a probabilidade de um evento nos baseando no quão fácil os exemplos vêm à nossa mente, reduzindo, com isso, a sensibilidade para eventos que não vemos com frequência e aumentando a sensibilidade para o que vimos recentemente. O pensamento heurístico inicial costuma também nos levar a outro viés cognitivo, o fechamento prematuro: já fecharmos um diagnóstico precocemente sem considerar outras possibilidades. O fato é que para ter estiramento o paciente tem que ter algum evento precipitante, sem isso o diagnóstico de estiramento é muito improvável, devendo ser considerado outro diagnóstico diferencial.

Pensar em estiramento sem nenhuma história de trauma ou exercício é um erro comum, e nós devemos também ficar espertos porque mesmo após atividade física o edema pode ter outra etiologia, como a dor de início tardio relacionada ao exercício (“DOMS”), e um paciente fisicamente ativo pode apresentar denervação que na fase aguda se manifesta com edema muscular ou outras causas não relacionadas ao exercício


6- Ignorar o quadro clínico do paciente

Isso pode tanto acontecer por não dar atenção ou importância aos pedidos médicos, questionários e anotações sobre o quadro clínico do paciente, ou por receber solicitações de exames com indicações vagas e incompletas (como “dor” e “impotência funcional”) ou, até mesmo, discordantes do quadro clínico real do paciente, em que o médico solicitante coloca “dor após trauma”, mas o paciente não teve de fato nenhum trauma. Esse tipo de situação pode levar a um viés cognitivo conhecido como “efeito moldura”, que reflete o fenômeno no qual a maneira como os dados são apresentados influencia nossa conclusão diagnóstica.


7- Se fechar nas “bolhas” das especialidades

A especialização tem inúmeras vantagens, mas não devemos com isso se esquecer de entender o paciente como um todo. Pensar apenas em causas musculares traumáticas ou relacionadas ao exercício nos exames musculoesqueléticos pode fazer com que alterações relacionadas a outras especialidades, como as causas vasculares, reumatológicas, iatrogênicas e secundárias a doenças sistêmicas sejam esquecidas.


8- Ignorar exames anteriores

É fato que devemos sempre tentar fazer comparação com exames anteriores. Mas, muitos acabam errando ao se limitar a comparar estritamente com o mesmo exame, ignorando os exames da mesma região de outros métodos e os exames de outras regiões que podem dar pistas importantes em relação à alteração atual. Por exemplo, o exame atual é uma ressonância magnética da bacia ou coxa e só procuramos exames anteriores da bacia ou da coxa. Mas, uma alteração estranha em um músculo que achamos que pode ser um hematoma pode ser analisada de outra forma se verificamos que em uma ressonância magnética da pelve a paciente tinha endometriose.


9- Não considerar complementações

Muitos radiologistas acreditam que devem laudar apenas com o que tem disponível, mas muitas vezes a complementação com contraste, sequências fora da rotina e outros métodos pode fazer a diferença entre um laudo inconclusivo de um diagnóstico brilhante que fará diferença na vida do paciente.


10- O Viés do da confirmação e do ancoramento

Viés de confirmação é “a tendência a valorizar muito mais os dados que confirmam a nossa hipótese inicial do que os dados que refutam essa hipótese”, enquanto que viés de ancoramento é a "tendência a "ancorar-se" a uma referência do passado ou em apenas uma parte da informação na hora de tomar decisões". Isso ocorre porque inconscientemente damos mais valor aos dados que confirmam nossa hipótese ou buscamos com mais vontade dados que corroboram nossa impressão inicial porque nos custa mais mudar de ideia do que continuar com uma ideia que já temos, mesmo quando errada. Da mesma forma, tendemos a menosprezar, ignorar ou não procurar com tanto afinco dados que possam refutar nossa hipótese inicial.



"Não corrigir nossas falhas é o mesmo que cometer novos erros".

Confúcio


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