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Gato por lebre



Muitas coisas fazem a radiologia musculoesquelética difícil, a lista é longa...

 

Não temos boa formação em ortopedia na faculdade, que é voltada muito mais para as especialidades mais gerais.

 

Nas residências em radiologia dependemos do perfil da instituição e grande parte dos hospitais não tem a ortopedia como especialidade dominante, o que faz com que o residente não veja muitos casos ortopédicos.

 

E quando caímos no mercado de trabalho percebemos que diversas alterações são muito parecidas, mesmo quando a etiologia é completamente diferente, o que implica em diagnósticos e condutas também diferentes.

 

O resultado é uma tendência de oito ou oitenta: ou a pessoa detesta a radiologia musculoesquelética, achando que não vai conseguir aprender nunca a diferenciar as alterações uma das outras ou se acomoda em “fórmulas” de laudo quase iguais para todos os exames, o que enfraquece a especialidade já que os laudos se mostram completamente inúteis, mesmo que pareçam rebuscados.

 

Isso porque, se nos limitarmos apenas a descrever as alterações vamos nos deparar com descrições que se baseiam na maioria das vezes a descrever hipersinal, já que a grande parte das estruturas têm isossinal (como os músculos) ou hipossinal (como os tendões e ligamentos). Só que um músculo com hipersinal pode representar estiramento, denervação, miopatia, infarto, DOMS... Hipersinal no lábio glenoidal pode ser lesão, degeneração, variante anatômica ou até ser secundário a capsulite adesiva.

No caso das lesões ósseas é a mesma coisa – diversas lesões se manifestam como lesão lítica, desde um cisto simples até uma metástase ou mieloma múltiplo.

 

Como então não levar gato por lebre? Esses cinco passos vão te ajudar bastante:

 

O primeiro passo é conhecer o perfil paciente – só sexo, idade e ocupação já podem direcionar o diagnóstico e a forma de interpretar as lesões.


O segundo passo é saber o motivo do exame, se teve trauma e quais os sintomas são fundamentais porque dor isolada e dor com impotência funcional são completamente diferentes. Fora que nem todo paciente faz exame por dor, não podemos esquecer das tumorações (que nem sempre são tumores!).


O terceiro passo é saber o  histórico do paciente - saber se ele já foi submetido a cirurgia ou algum procedimento (como infiltração ou procedimento estético), se tem alguma doença conhecida (como neoplasia ou doença reumatológica) e se fez radioterapia ou quimioterapia, ou uso de corticoide, por exemplo, podem fazer muita diferença no raciocínio diagnóstico.


O quarto passo muito importante é sempre checar os exames anteriores. Parece óbvio, mas muitos associam exames anteriores apenas ao mesmo exame literalmente, mas qualquer exame que inclua a mesma região ajuda. Ao analisar uma imagem em uma RM da coluna torácica pode fazer muita diferença olhar uma TC de tórax anterior com janela óssea. O mesmo vale para exames de bacia de pacientes que tem TC ou RM da pelve, ou RX do tórax que pode mostrar lesão óssea na clavícula ou arco costal, assim como devemos olhar sempre qualquer cintilografia ou PET-CT.

 

O último passo tem a ver com prestar atenção em alguns detalhes – afinal, não é à toa que dizem que a excelência mora nos detalhes! Mesmo que a imagem seja muito parecida existem pistas que apontam para determinados diagnósticos. Por exemplo, mesmo que muitas doenças cursem com edema muscular difuso, é comum existir alguma predileção por determinado ventre muscular (por exemplo, é muito mais comum existir denervação do redondo menor em comparação com estiramento) e em algumas situações é esperado encontrarmos líquido perifascial enquanto em outras não é habitual.  

Os tumores ósseos têm muita relação com a idade e localização, assim como muitos apresentam características específicas que permitem o diagnóstico ou a orientar o próximo passo para o médico assistente apenas com as imagens radiográficas.

 

Não caia na tentação dos “descritivomas” – aquelas descrições que falam demais do mesmo e não dizem nada e tente sempre conhecer o caso e descobrir os detalhes que fazem a diferença.


"Os pequenos detalhes são sempre os mais importantes".

Sherlock Holmes




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