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Informação x conhecimento


Na década de 70 o sociólogo Daniel Bell no seu livro “The Coming of Post-Industrial Society” já tinha introduzido o conceito de “sociedade da informação” onde afirmava que o pilar econômico da sociedade pós-industrial seriam os serviços baseados em conhecimento. Essa expressão retornou na década de 90, quando foi adotado o conceito mais integral de “sociedade do conhecimento” como uma forma de expansão da discussão fora do contexto político-econômico e da inovação tecnológica. Desde então, tem crescido a discussão sobre “informação x conhecimento” em diversas áreas, incluindo a radiologia.


No dia a dia, normalmente não percebemos a diferença entre conhecimento e informação. O problema disso é confundirmos a facilidade na obtenção da informação com termos conhecimento sobre um assunto.


Conhecimento não é simplesmente a apropriação das informações, como se o intelecto fosse um grande catálogo, até porque seria extremamente limitado uma vez que os computadores são muito mais eficientes tanto na capacidade de guardar um número infinitamente maior de dados, quanto de atualiza-lo muito mais rapidamente.


Existe também uma nuance que é o “saber”: o “conhecimento” implica numa compreensão mais global e analítica das informações, já o “saber” vai além, incluindo experiências e práticas que se tornam evidências e certezas intuitivas mais precisas.


Na era da Inteligência Artificial, a reinvenção da radiologia aponta para uma necessidade de evolução dos laudos, sendo útil adotarmos na nossa vida diária o conceito bastante difundido da “hierarquia do conhecimento”:



Os dados são os fatos relacionados ao paciente e ao exame e as informações são quando os dados e observações são processados de uma forma mais estruturada: sabemos quem é o paciente, porque e quando fez o exame, e identificamos alterações. Muitos finalizam o laudo nesta etapa, apenas “fornecendo informações” como ‘hipersinal, sinal irregular e heterogeneidade do sinal’.

Mas, como qualquer informação, deve ser associada ao conhecimento, que permite “ligar os pontos”, integrando as informações a partir da interpretação dos achados e do reconhecimento de padrões, ou seja, o que significa o que você está descrevendo – degeneração, fratura, rotura, infecção, tumor ou um achado sem importância?


Poderíamos finalizar o laudo nesta etapa, fornecendo um relatório técnico, da mesma forma que um programa de computador. Porém, com isso estamos deixando de empregar a sabedoria, onde aliamos ao conhecimento a inteligência, experiência e princípios éticos, que é o que nos diferencia da tecnologia e permite que ela funcione como aliada e não substituta. É a aplicação do conhecimento em prol do melhor para o paciente, médico solicitante e para nossa especialidade, nos preocupando com a forma, o conteúdo e as consequências do que escrevemos.


E, por fim, nos últimos tempos tem sido acrescida à hierarquia do conhecimento a iluminação no sentido de clareza de propósito: é a percepção do que fazemos e porque fazemos. É onde, mesmo nos achando competentes, temos espaço para questionamentos e insights: estou satisfeito com a forma como estou trabalhando? Qual o meu papel como radiologista, como posso contribuir para a sociedade e no que preciso melhorar?


Adotando todas as etapas da hierarquia dos conhecimento estaremos aptos a nos sentir mais plenos e realizados na nossa vida profissional.



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