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Livro x filme


As imagens sempre foram uma importante forma de comunicação, presentes desde as pinturas rupestres na pré-história. E uma imagem pode fornecer muita informação, como já diz a frase “Uma imagem vale mais do que mil palavras”. Essa é uma das razões do sucesso dos filmes - trazer informações de forma mais rápida, já que em menos de duas horas já sabemos de histórias que levaríamos dias ou até semanas para terminar de ler.


Mas a palavra também tem muito valor: foi o desenvolvimento da escrita que possibilitou maior consciência sobre os fatos e permitiu a organização e disseminação do pensamento. Um bom texto nos permite a visualização de imagens, sendo, portanto, correto afirmar que “Palavras também valem por imagens”. Essa é uma das razões pela qual muitas pessoas ainda preferem o livro ao filme. Porque ao ler um livro, não só conseguimos imaginar os cenários, objetos e pessoas descritos, mas temos acesso a muito mais detalhes e informações que o tempo do filme não permite.


O mesmo raciocínio deveria ser utilizado em relação ao laudo radiológico: do ponto de vista dos profissionais que o recebem, o texto deveria ser superior à imagem, assim como muitos livros são superiores aos filmes, até porque quem recebe o exame não é especialista em imagem.


No blog sobre "O verdadeiro significado do laudo descritivo"(http://www.mskrad.com.br/blog/o-verdadeiro-significado-do-laudo-descritivo) foi citado que um dos preceitos recomendados pelo American College of Radiology para o laudo radiológico perfeito é que o texto deve permitir visualizar perfeitamente as alterações descritas, dando ideia exata da alteração, mesmo sem acesso às imagens. Ou seja, ler o laudo deveria ser equivalente a ler um livro e saber mais do quem só viu o filme. E uma das formas de alcançar esse objetivo é seguir os 5 princípios da boa escrita:


1- PROPÓSITO

O texto deve ter um objetivo claro, no caso fornecer as informações diagnósticas para o médico solicitante. Não é raro confundir esse propósito com o de apenas descrever o que se vê para si mesmo ou outro radiologista, em vez de confeccionar um laudo voltado para quem recebe o exame e que nem sempre entende os aspectos radiológicos ou tem tempo hábil para analisar as imagens adequadamente.


2. CLAREZA

É importante ter concisão e clareza para que o solicitante entenda o que você está querendo dizer. Descrever “lesão com hipersinal em T2 e sinal intermediário em T1” é o que você está vendo na imagem, mas o que isso quer dizer para quem lê o laudo?


3. INFORMAÇÕES ESPECÍFICAS

No dia a dia é fácil confundir informação (dados e observações processados de uma forma mais estruturada) com conhecimento (o que permite “ligar os pontos”, integrando as informações a partir da interpretação dos achados e do reconhecimento de padrões), conforme discutido no blog "Informação x Conhecimento". (http://www.mskrad.com.br/blog/informa%C3%A7%C3%A3o-x-conhecimento). Informação sem conhecimento gera laudos de difícil assimilação, podendo, inclusive, levar a má interpretação e iatrogenia.


4. CONEXÕES

Devemos também evitar frases soltas sem correlação entre causa e consequência e não ajudando a determinar se o achado pode ser o responsável pelo quadro clínico. Descrever estiramentos em pacientes sem relato de trauma (onde o edema muscular poderia ser secundário a denervação) ou alteração degenerativa em paciente jovem (que na verdade tem coalizão não óssea relacionada a alterações simulando artrose), por exemplo, são sinais de que o laudo está pautado em frases isoladas, sem conexão causal.


5. PALAVRAS APROPRIADAS

A escolha correta das palavras é fundamental para evitar mal entendidos. Algumas palavras podem levar a interpretações específicas, como nódulo, por exemplo, que dá ideia de lesão tumoral, o que nem sempre é o caso.


Pensar no laudo como um livro que deu origem a um filme nos ajuda a escolher bem as palavras para sermos claros, concisos, precisos e fornecendo informações que tenham conexão com o cenário clínico. Ao ler o laudo, o médico solicitante deve ter a sensação de esclarecimento e não de dúvida, onde ele próprio se sente obrigado a aprender a interpretar as imagens para chegar ao diagnóstico.

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