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Perfil do radiologista e adaptação à IA


Nos últimos anos tem se discutido muito o papel do radiologista frente aos novos avanços tecnológicos, como a inteligência artificial (IA). Os especialistas no assunto não apontam para a extinção da especialidade, mas sim para uma grande mudança na forma atual de trabalho. O perfil profissional que mais se beneficia da tecnologia é aquele que a tem como aliada, usando seus recursos para aprimorar o resultado final, transferindo seu tempo e conhecimento para os pontos onde a tecnologia ainda não consegue atuar de forma satisfatória.

Segundo Gunderman e Chou (Radiology 2016; 281:6–9), o radiologista não deveria trabalhar como se estivesse numa linha de montagem fabril, priorizando quantidade e rapidez em detrimento do papel de consultor. Nesse caso, o radiologista estaria restringindo a sua atuação justamente aos pontos onde o trabalho humano pode ser superado e se afastando do que se espera de um especialista.

Em relação aos exames de musculoesquelético (MSK) podemos identificar alguns tipos de comportamento que tendem a não se sustentar a longo prazo e as ações que estariam mais de acordo com o que está se delineando para o futuro da especialidade:


1. Laudar sem informação suficiente sobre o paciente – é comum não considerar o histórico do paciente imprescindível por acreditar que basta descrever as alterações observadas e o médico solicitante irá correlacionar com os dados clínicos.

Medicina diagnóstica é um trabalho investigativo e, como tal, reunir o máximo de informações sobre a pessoa que está por trás das imagens não só levará a um diagnóstico mais preciso como também irá contextualizá-lo. É a diferença entre uma lista desconexa de achados aleatórios (muitas vezes exatamente iguais mesmo em situações clínicas totalmente distintas) e um relatório que reúne dados que fazem sentido e diferença para o médico solicitante.


2. Laudar sem informação suficiente sobre o que é importante informar – muitos evitam contato com os médicos solicitantes por achar que atrapalha a produção.

O contato entre as especialidades é o que diferencia o “laudista” desconhecido do radiologista consultor. Trabalhando em equipe não só temos a oportunidade de orientar os demais médicos sobre o exame mais indicado para cada caso, como passamos a conhecer os casos de forma mais profunda e aprendemos a distinguir os achados que devem ser valorizados daqueles que não são relevantes.


3. Não exercer a “expertise” – a orientação dos exames deixa de ser uma preocupação quando se acredita que basta o técnico fazer “a rotina” da articulação solicitada.

O radiologista exerce seu papel de especialista quando usa seu conhecimento também nas etapas que antecedem e sucedem o exame: montagem de protocolos não subutilizando o potencial de cada máquina, participando do treinamento dos operadores dos aparelhos, na adaptação do exame a cada caso, lançando mão de sequências extras, posicionamentos ou manobras provocativas que aumentam a acurácia do exame, solicitando complementos, revendo periodicamente as rotinas e frases de laudo, etc.

A falta de conhecimento e atualização leva a simplificação excessiva dos exames e a falsas premissas, como achar que apenas os casos de tumor se beneficiam de contraste venoso, que as alterações em grandes articulações são mais óbvias que nas articulações menores ou que os exames mais prevalentes são mais simples e com menos consequências que os exames mais raros, por exemplo.


4. Confundir eficácia, eficiência, efetividade e produtividade – eficácia refere-se a fazer o que deve ser feito (execução correta), eficiência refere-se a como fazer o que precisa ser feito (a melhor forma) e efetividade refere-se a fazer corretamente as coisas certas, atingindo as metas com qualidade e competência. Produtividade é o resultado da capacidade de produzir, sendo a expressão da eficiência.

Por mais rápida que seja, uma pessoa jamais poderá competir com a velocidade de um computador. Além disso, muitos dos radiologistas que se orgulham de ser “produtivos” estão apenas fazendo um trabalho mecânico, cheio de “frases padrão” e com alto índice de falhas decorrente da análise superficial e rápida das imagens, tornando-o muito menos preciso que um software na detecção de alterações. O foco apenas na quantidade em vez da busca pela efetividade torna cada vez mais frágil a figura do radiologista, uma vez que com isso ele deixa de ser imprescindível.

Máquinas algorítmicas são projetadas para executarem tarefas precisamente definidas, com velocidade e exatidão. Todavia, máquinas são desprovidas de bom senso, sendo a mente humana mais apta a compreender idiossincrasias e interpretar melhor os resultados. O objetivo dos cientistas da computação é buscar formas das máquinas serem inteligentes e parecidas com os seres humanos, mas não é inteligente da parte dos seres humanos trabalhar de forma robótica como as máquinas, pois elas sempre serão muito mais eficientes na execução de tarefas mecânicas.



Literatura sugerida:

1. RB Gunderman e HY Chou. The Future of Radiology Consultation. Radiology 2016; 281:6–9.

2. Erik L. Ridley. How will AI affect radiology? Publicado no site auntminnie.com em maio de 2017.

3. William Doss. AI will change radiology—but it won’t replace the radiologist. Publicado no site healthimaging.com em maio de 2017. http://www.healthimaging.com/topics/advanced-visualization/ai-will-change-radiology-won%E2%80%99t-replace-radiologist

4. Eliot Siegel. Will Radiologists Be Replaced by Computers? Debunking the Hype of AI. Publicado no site carestream.com em novembro de 2016. http://www.carestream.com/blog/2016/11/01/debating-radiologists-replaced-by-computers

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