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Redes sociais afastam ou aproximam as pessoas?


Há muitos anos essa pergunta vem sendo objeto de debate entre os diversos segmentos da sociedade. Banksy, pseudônimo do polêmico artista britânico conhecido por suas obras de arte subversiva que pode ser encontrada em cidades por todo o mundo é também famoso por ter escolhido o anonimato, recusando-se a ter qualquer mídia social, o que não o impediu de ser considerado uma das pessoas mais conhecidas e influentes no mundo das artes. Em uma de suas últimas obras, “Mobile Lovers”, ele ilustra como as redes sociais podem nos impedir de viver o momento presente.


Para quem idealiza o passado, a resposta óbvia é que as redes sociais afastam. Afinal, as pessoas hoje passam a maior parte do tempo em seus celulares e com muito mais interação virtual que presencial. Por outro lado, as redes propiciam interação com um número muito maior de pessoas, o que seria impossível pelos métodos convencionais, permite localizar pessoas com as quais perdemos contato e viabiliza interagirmos com pessoas de qualquer lugar do mundo simultaneamente.


Na verdade, a visão maniqueísta da divisão em bom ou mau acaba sendo muito simplista e tira de cena o verdadeiro protagonista que é o ser humano. Por trás das redes sociais existem pessoas, e é o seu comportamento que tem o poder de afastar ou aproximar. E evolução é nos adaptarmos ao novo, superando o que havia de nocivo no passado e perpetuando e aperfeiçoando o que já temos de bom.


O que sempre existiu desde os primórdios da humanidade que deu certo e pode ser reinventado através de outros meios?


- Troca ativa de informações que propiciem debates e conscientização: Platão sentava-se com seus alunos embaixo de uma árvore e propagou diversos conceitos filosóficos que são utilizados até hoje. As maiores religiões do mundo começaram com poucas pessoas disseminando conceitos caminhando em estradinhas de terra. Diversos conceitos da era moderna aconteceram através de conversas em cafés parisienses. Não importa a época, local ou meio, tudo isso foi possível porque existia algo em comum: o desejo de questionar o status quo e o saber ouvir. As redes sociais funcionariam da mesma forma se fossem mais utilizadas como local de reflexão e interesse genuíno pelo que o outro tem a dizer.


- Tempo para reflexão: precisamos digerir as informações e checar ativamente se o que falamos está em sintonia com o que agimos. O escritor alemão Goethe, considerado uma das pessoas mais inteligentes que viveram entre os séculos XV a XIX, já dizia que “É fácil pensar, é difícil agir, mas agir segundo o próprio pensamento é o mais difícil”. Isso porque muitas vezes somos contraditórios, o que torna importante nos permitirmos tempo para reflexão e questionamentos. Muitas vezes ficamos tão entretidos nas redes sociais olhando postagens vazias de conteúdo que, sem perceber, reproduzimos o mesmo comportamento criticado nas décadas de 70 e 80 - não sair da frente da televisão ou do videogame, perdendo tempo em atividades passivas.


- Tempo para autocrítica e revisão de conceitos: acabamos adquirindo a tendência de achar que tudo nas redes sociais é verdade ou aceitável. Isso leva à disseminação das “Fake News”, assunto já abordado no blog http://www.mskrad.com.br/blog/fake-news, e que também não é exclusivo da era pós-internet: notícias falsas já existiam desde que o homem dominou a fala. Outro problema é não percebermos que somos mais condescendentes com o mundo virtual em relação ao analógico, sem nos ater aos princípios básicos que determinam nossas atitudes. Uma situação que vejo constantemente é o radiologista que se recusa a comparar exames anteriores quando não existe mídia digital, porque “as imagens precisam de alta resolução e de diversos recursos para serem analisadas com maior acurácia, impossível no filme ou papel”. Mas, esse mesmo radiologista, aceita e estimula o uso excessivo do celular para solicitar ou fornecer pareceres, muitas vezes tendo apenas imagens de má qualidade e incompletas. Sem contar que muitas vezes essas solicitações acontecem em momentos ou ambientes pouco propícios para análise de um exame, que acaba sendo visto de forma rápida e superficial. O filme radiográfico se tornou obsoleto e o papel radiográfico não é o ideal para interpretação, mas uma imagem tosca no celular vista enquanto dirige ou numa festa não seria ainda muito pior?


- Busca por qualidade de vida: o famoso ditado popular “A diferença entre o remédio e o veneno é a dose” também vale para as mídias sociais. O exagero de grupos e mensagens afeta a qualidade de vida das pessoas, que passam a se sentir na obrigação de estarem disponíveis o tempo todo, recebem um número grande de informações que não dão conta de absorver, fora a obrigação constante de postar, curtir e comentar.


O verdadeiro conhecimento requer maior embasamento e tempo para digerir a informação, desenvolver o senso crítico, analisar, ter dúvidas, aprender com os erros, aproveitar o conhecimento e experiência de outros colegas e interagir de verdade.


O ideal seria um equilíbrio entre interação nas redes e momentos de pausa e silêncio para reflexão e tempo para lermos textos mais consistentes em vez de apenas informações telegráficas e superficiais.


Para quem gosta de clipes, o da música "Carmen", inspirado na ópera homônima e lançado pelo artista Stromae critica de forma contundente, como é seu estilo, a alienação das redes sociais, com foco especial no Twitter e seu passarinho azul, transformado em monstro! (https://www.youtube.com/watch?v=UKftOH54iNU)

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