A cultura implacável da produtividade nos faz sentir terrivelmente culpados por “desperdiçar tempo”. Nós buscamos freneticamente a produtividade, a tal ponto que não conseguimos realmente descansar. Enquanto damos uma volta, tiramos um dia de folga, ou mesmo enquanto lemos ou assistimos a um filme, nossa mente fica ocupada com as coisas que deveríamos fazer.
Assim, acabamos sobrecarregados pela culpa de não estarmos “fazendo nada” e ficamos presos à crença de que ser produtivo significa trabalhar mais, quando, na verdade, nos países mais prósperos e produtivos trabalham-se menos horas em comparação com países com produtividade menor.
Você sabia que Charles Dickens, Gabriel Garcia Márquez e Charles Darwin trabalhavam cinco horas por dia ou menos? E que dizem que Albert Einstein precisava dormir cerca de 10 horas e até tirava cochilos? Muitos gênios sabiam que “perder tempo” é tão importante quanto aproveitar ao máximo o trabalho. Eles estavam cientes da importância do descanso, relaxamento e sono para produzir as ideias mais originais e criativas.
Essa noção do “ócio criativo” já é bem estabelecida, mas, hoje em dia, muitos confundem a necessidade de se “desligar” das tarefas do dia a dia com ficar o tempo todo conectado à internet ou às redes sociais, como um “combo” que reuniria as vantagens de se desligar do trabalho e se distrair, ao mesmo tempo em que não se “perderia tempo”, já que estar online proporcionaria distração associada a informações e conhecimento, dando a sensação de que estamos fazendo “alguma coisa útil”.
Entretanto, essa estratégia acaba fazendo você desperdiçar tempo, principalmente se você resolve “se distrair” com essas atividades que, na maioria das vezes, acabam não distraindo a mente, muito pelo contrário. Por exemplo, toda vez que você recebe um alerta de que tem uma nova mensagem, sua concentração se quebra e pode fazer você entrar em um “looping” de respostas que geram outras mensagens, envolvendo mais pessoas e levando a tarefas diferentes da que você estava executando anteriormente e a novas buscas por outros conteúdos. E, o que parecia “vou usar 5 minutinhos do meu tempo só para me distrair dando uma olhadinha nas mensagens” acaba se transformando em horas perdidas.
Uma das formas mais eficientes de administrar o tempo e conseguir relaxar é treinar para conseguir focar no momento presente, vivenciando o momento de forma plena, dando total atenção ao que estamos fazendo. E estar conectado durante as atividades e nos momentos de relaxamento acaba nos levando a acumular preocupações futuras, como “preciso depois assistir esse vídeo, ler esse artigo, estudar esse assunto, responder esse e-mail, me inscrever nesse curso, ver esse caso, fazer essa receita, planejar uma viagem”, e por aí vai, a lista do que “temos que fazer” só aumenta, gerando ansiedade. Essas “pendências” ficam ocupando um espaço importante na mente, consumindo nossa energia, o que não apenas prejudica o presente, como também acaba afetando o futuro.
Portanto, se estamos trabalhando, devemos nos concentrar no trabalho em si, sem distrações paralelas que possam ser evitadas. Não precisamos nos transformar em excluídos digitais, mas devemos reservar horários específicos para estabelecer um limite de tempo para as redes sociais e mensagens. E, quando buscarmos um assunto na internet, não nos deixarmos levar por outras buscas que não tem relação com o objetivo daquele momento.
E quando percebemos que estamos cansados e queremos relaxar, devemos fazer coisas que realmente deem descanso à mente e funcionem como atividades regenerativas: caminhar despreocupadamente, estar em contato com a natureza ou ouvir música sem fazer nada, por exemplo, permitem nos livrar do cansaço mental, desenvolver um estado emocional mais positivo, obter o nosso equilíbrio psicológico e adotar novas perspectivas para encontrar melhores soluções para os problemas. Portanto, devemos vivenciar esse momento sem culpa, sabendo que quando não fazemos realmente nada estamos fazendo um grande favor a nós mesmos!
“O passado nada mais é do que uma lembrança e
o futuro nada mais do que uma expectativa”.
Santo Agostinho
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