A radiologia musculoesquelética não precisa nem deve ser uma atividade monótona e desinteressante apenas baseada em laudos repetitivos com descrições semelhantes. Podemos aplicar diariamente diversas forças que formam as virtudes que nos ajudam a encontrar nossa vocação. Neste mês veremos com mais detalhes as duas primeiras virtudes, a sabedoria e a coragem:
A virtude da SABEDORIA engloba qualidades cognitivas que implicam na aquisição e uso do conhecimento. Não é raro dedicarmos muita atenção na aquisição do conhecimento na forma de leitura de artigos, buscas na internet e discussão de casos, mas não nos preocuparmos na melhor forma de aplicar o conhecimento na prática. O tema “conhecimento” como conceito distinto de “informação” foi discutido no blog http://www.mskrad.com.br/blog/informa%C3%A7%C3%A3o-x-conhecimento. As qualidades cognitivas que, em conjunto com o conhecimento, levam à sabedoria são:
Criatividade – pensar em formas diferentes de conceituar e fazer as coisas. Se não estamos satisfeitos com a forma de trabalho, qualidade dos exames e/ou conteúdo dos laudos devemos pensar em novas estratégias.
Curiosidade – interesse em saber além do conhecimento básico sobre determinado assunto e busca por novidades. É importante sabermos o porquê por trás das rotinas, a importância de cada sequência, o que é imprescindível e o que fazemos a mais só por garantia e o que tem de novo na literatura para tornar o exame mais diagnóstico. Da mesma forma, refletir e procurar saber as implicações do que escrevemos, a relevância ou não de determinadas informações, o risco potencial de determinadas frases, etc.
Critério – ter pensamento crítico, refletindo sobre as coisas sem tirar conclusões precipitadas, ponderando e analisando todas as evidências sobre diferentes ângulos. É fundamental analisarmos os exames com critério, sempre nos perguntando se a qualidade técnica está adequada, o que estamos fazendo quanto a isso e se a forma de descrição que estamos adotando é realmente a melhor.
Amor ao aprendizado – buscar o conhecimento de forma mais profunda, dominando o assunto a que se propõe laudar, não se contentando em apenas descrever os achados de forma superficial e sem conteúdo.
Perspectiva – ser capaz de olhar as situações de uma forma que faça sentido para si e para os outros. No caso do laudo radiológico, ele tem que fazer sentido para outro radiologista que venha a rever ou dar um laudo comparativo no futuro, para o médico solicitante, para outro médico que o paciente procure para uma segunda opinião ou um eventual perito e que não cause transtornos desnecessários para o paciente.
A virtude da CORAGEM engloba qualidades emocionais relacionadas ao exercício da vontade diante de alguma oposição. Se sua meta é a excelência, é natural que apareçam oposições referentes ao tempo do exame, a reconvocações, críticas em relações a algumas sequências e frases de laudo e resistência a mudanças no status quo. Para conseguirmos manter nossa vontade devemos desenvolver as seguintes forças:
Bravura – atitude de não recuar e defender o que acha certo mesmo que haja oposição. Ao de deparar com desafios e dificuldades optar pelo que é o correto e não pelo que é mais comum, cômodo ou conveniente.
Perseverança – persistir em um plano de ação apesar dos obstáculos. Já foi dito que “Entre plantar e colher existe o regar e o esperar”, ou seja, buscar apenas resultados imediatos pelos caminhos mais fáceis dificilmente leva a bons resultados a longo prazo. Pode até parecer que o problema foi resolvido de forma eficiente pela rapidez, mas via de regra acabamos por criar outros problemas futuros ainda mais complicados de resolver.
Integridade – não só falar a verdade, mas ser autêntico e honesto, assumindo a responsabilidade pelas suas ações. É fundamental agirmos de forma correta quando administramos nossa lista de trabalho. Buscar apenas exames mais simples, desrespeitar a ordem cronológica, banalizar as especialidades diferentes da sua e sobrecarregar os outros acaba por prejudicar não só o grupo, mas também a si mesmo. Evitar exames complexos prejudica a evolução pessoal e a falta da prática impede que esses exames deixem de ser tão complexos e demorados um dia. Nossa imagem também é afetada: não somos invisíveis, nossos atos são percebidos por todos mesmo à distância e podem nos custar boas oportunidades futuras se pairar sobre nós a sombra da falta de integridade.
Vitalidade – ter entusiasmo e energia. A motivação é uma mola propulsora poderosa e acabamos por ficar desmotivados quando trabalhamos de forma mecânica e entramos na espiral das reclamações improdutivas.
“O valor de todo o conhecimento está no seu vínculo com as nossas necessidades, aspirações e ações; de outra forma, torna-se um simples lastro de memória” – Kliutchevski.
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