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Sou cringe, meu Deus ?!



No mês passado o termo “cringe” (verbo em inglês usado para descrever situação vergonhosa, que virou gíria para vergonha alheia ou, como se dizia antigamente, cafonice) ficou popular na internet como mais uma forma de diferenciar as gerações, como já aconteceu anteriormente com os termos “raiz x Nutella”.


As gerações agora são classificadas como “X” (nascidos entre as décadas de 1960 e 1970), “Y” ou “millennials” (nascidos entre 1980 e 1990) e “Z” ou “zennials” (nascidos entre 1995 e 2010). Esse termo viralizou porque os “millennials” descobriram que atitudes que eles consideravam descoladas (como tomar café da manhã, gostar de café, da Disney, Friends e Harry Potter, usar muitos emojis, ‘rsrsrs’ para risadas, etc.) traz o sentimento de vergonha alheia para quem tem menos de 25 anos, da mesma forma como já ocorreu com usar ombreiras e pochete, agora chamado de “cheugy”: algo que já foi moda e virou brega. São as tendências desatualizadas de “millennials”, que eram descolados no passado, mas que hoje em dia são cringe.


Claro que isso gerou vários memes e discussões sobre pessoas da geração “Y” mudando os hábitos para não parecerem “velha guarda”, enquanto outras enaltecem os hábitos “cringe”, incluindo marcas de sucesso, que pegaram carona na modinha lançando produtos para quem se assume “cringe” com muito orgulho.


Vamos nesse post ver o que é considerado “cringe” na radiologia musculoesquelética de um modo ruim – ultrapassado, que dá vergonha alheia e não está de acordo com as tendências mundiais de mercado:


1-Ignorar a reforma ortográfica

Após cada reforma ortográfica demora um certo tempo até todos se habituarem, mas a última reforma já aconteceu em 2009 e estamos em 2021! Logo, ainda nos depararmos com “supra-espinhoso”, “ântero-posterior”, “ultra-som” nos laudos é meio embaraçoso e mostra que você ainda está preso ao passado...



2-O derrubador de pilha

Alguns radiologistas encaram o seu trabalho como se fosse um operador de maquinário da indústria madeireira - só querem derrubar o que encontram pela frente! Claro que esse perfil não é muito bem visto atualmente, por ser considerado predatório e nocivo. Individualmente, você pode até ter lucro, mas a que preço? Exames mal vistos, laudos mal escritos, análises incompletas, perda de qualidade, desqualificação da especialidade, ser mal visto pelos colegas, ou seja, uma vergonha alheia ser assim!


3-O garimpeiro


Você achou o derrubador de pilha ruim? Imagina então juntando com um garimpeiro - aquele que escolhe os exames a dedo, pensando apenas no seu próprio custo-benefício... Além de prejudicar toda uma equipe, aumenta a chance de erro do “esperto”, que muitas vezes acha que é ouro, mas é pirita (o ouro dos tolos). Não está na moda pensar só em si, hoje em dia vai mais longe quem pensa em equipe.


4-Correlacionar com dados clínicos em TODOS os exames

É óbvio que quem solicita um exame vai correlacionar com os dados clínicos. Essa frase deve ser utilizada em casos pontuais e com motivo. Como, por exemplo, determinado achado que pode ou não ser valorizado ou pode ter interpretações diferentes de acordo com dados clínicos e/ou laboratoriais que o radiologista não teve acesso. Usar essa frase em todos os laudos indiscriminadamente faz parte do passado porque é redundante e deixa de atender ao seu propósito.


5-Não responder à pergunta do médico assistente

Quem pede um exame complementar tem uma dúvida. Portanto, sempre que possível, devemos responder as questões do médico solicitante, e não apenas nos limitar a descrever a imagem.





6-Explicar o sinal nos mínimos detalhes

Sabe o personagem de um programa de humor que explicava tudo nos 'míiiiinimos' detalhes? Faz sucesso hoje em dia? Por que então você acha que o médico assistente vai gostar (e entender) laudos com detalhes do sinal, como “área mal definida de hipossinal em T1 e hipersinal em DP e T2 com supressão de gordura na medula óssea compatível com edema”? Por que não dizer logo que é edema?



7-Laudo longo e prolixo

Muitos acham que o laudo longo e prolixo impressiona porque passa muito conhecimento. Quem recebe um laudo quer respostas às suas dúvidas e não saber o quanto você sabe. E acaba sendo constrangedor e irritante ler duas páginas de laudo e, além de não ter a sua pergunta respondida, ainda fica mais confuso do que antes de receber o exame!



8-Usar subterfúgios para exames de má qualidade

Diversos radiologistas acreditam que se defendem de exames de má qualidade omitindo informações ou colocando “sem alterações ao método” - não consigo ver o labrum glenoidal de tão ruim que está o exame? Basta não falar nada ou colocar "ao método", já que existe a artroRM que seria mais sensível... Você acha que consegue disfarçar uma comida com ingredientes estragados? É um vexame entregar exames não diagnósticos, e tentar disfarçar isso com frases toscas só faz você passar vergonha e arriscar sua reputação.



A sabedoria de uma geração será insensatez na próxima.”

Joseph Boynton Priestley (1733-1804), filósofo e teólogo britânico

1 Comment


FABIO SILVA
FABIO SILVA
Aug 03, 2021

Boa noite...muito bom o texto, porém nós temos que aplicar suas idéias no contexto no qual estamos inseridos. O "abaixador de pilha", "aquele que explica tudo nos mínimos detalhes", e "os que escrevem laudos longos e prolixos" nada mais são que posicionamentos mercadológicos, e sempre agradam ao gestor do serviço. Os erros sempre vão existir, e o objetivo é reduzir os erros, porém não errar é humanamente impossível, mesmo nos serviços de "referência". Se prestar atenção, as maiores queixas dos pacientes é lugar para estacionar e o tempo de espera na recepção da clínica. Os médicos, a maioria nem lê o relatório médico. E as queixas na justiça são por falta de atenção ou falta de edução do médico, e…

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