Quando muitas pessoas de um grupo falam a mesma palavra ou expressão, o costume faz com que elas pareçam corretas, mesmo quando não estão. É o caso, por exemplo, da palavra “menas”: muitos acham correto porque grande parte das pessoas do seu convívio falam assim. Mas, quando alguém que não pertence àquele grupo ouve “menas”, soa mal e gera um julgamento negativo, principalmente quando não é esperado esse tipo de erro para o grau de instrução da pessoa. E o uso da linguagem culta é ainda mais cobrado quando nos referimos a livros, textos jornalísticos, artigos científicos, documentos legais e laudos médicos.
Claro que o mais importante é o fato de o laudo estar correto do ponto de vista diagnóstico. Entretanto, você não duvidaria um pouco da capacidade de um engenheiro, arquiteto ou advogado que falasse “menas” ou “nós vai”? Esses termos chamam a atenção pelo fato de que não costumamos ouvi-los no ambiente profissional. E erros de português básicos acabam afetando a credibilidade do profissional, mesmo que ele seja tecnicamente excelente. O pensamento comum, mesmo que inconsciente, é o de que, se a pessoa não sabe uma regra tão simples de português como vai saber assuntos bem mais difíceis e lidar com situações mais complexas? Será que foi mau aluno? Se não se preocupa com o português básico vai se preocupar com outros detalhes importantes? Independente da sua competência na área, o julgamento negativo já foi feito.
É sabido que esse tipo de erro não está necessariamente relacionado ao grau de instrução, mas sim ao fato das pessoas do mesmo convívio falarem da mesma forma. Por isso, os vícios de linguagem acontecem em todos os ambientes profissionais, inclusive no meio radiológico: em algum momento algum radiologista usou uma palavra ou termo que não estava correto ou cujo significado não era exatamente o que ele queria dizer, disseminou para outros radiologistas que não perceberam o erro e ajudaram a propagar aquela expressão. E, com o costume, o errado acaba parecendo certo. Mas, da mesma forma que nos incomodamos com um profissional de outra área cometendo um erro que consideramos básico, outras pessoas também vão se incomodar e duvidar da nossa capacidade profissional ao se depararem com um erro de português que elas considerem inaceitável em um laudo médico. O fato de nós não percebermos não impede que outras pessoas, como médicos de outra especialidade que não têm os mesmos vícios de linguagem, ou pacientes que lembram das aulas de português na escola, percebam e nos julguem. Abaixo alguns erros comuns que encontramos no dia a dia nos laudos radiológicos:
“À critério clínico”
Crase é o nome que se dá à união da preposição “a” com o artigo definido “a(s)”, ou com o “a” inicial dos pronomes demonstrativos “aquele(s)”, “aquela(s)” e “aquilo” e dos pronomes relativos “a qual” e “as quais”, indicada pelo acento grave. Portanto, uma das regras básicas do uso da crase é não a utilizar antes de palavras masculinas, já que nesse caso o artigo seria “o(s)”. Portanto, o correto é “A critério clínico”, sem crase, por critério ser palavre masculina (o critério).
“A medular óssea”
Só se usa artigo antes de substantivos – como, por exemplo, a medula, o osso, o pai, a mãe. Não existe artigo antes de um adjetivo. Da mesma forma que não falamos “o ósseo”, “o paterno”, “a materna”, não tem sentido falar “a medular”, que virou um vício de linguagem entre muitos radiologistas. O correto ao usar artigo é “a medula” (antes do substantivo medula), ou usar “medular”, sem artigo, pelo fato de medular ser um adjetivo.
“Em” e “no”
“Em” é uma preposição essencial, que ao ser combinada com um artigo forma “no” ou “na”. Usamos “em” quando queremos falar de maneira genérica, sem especificação. Por exemplo, na frase “pequenos cistos esparsos em alguns ossos do carpo”. Não tem um osso específico, pode ser qualquer osso do carpo. Diferente de “fratura no corpo do escafoide”. Não é qualquer local, é em um parte de um osso específico. Portanto, não é correto usar “em” quando o local é definido, como “fratura em escafoide” ou “edema em partes moles adjacentes ao platô tibial lateral”, o certo nesses casos é “fratura no escafoide” e “edema nas partes moles adjacentes”, pois são localizações bem especificadas.
“Às custas de”
Só existem duas formas corretas: “as custas”, no plural sem crase, que se refere às despesas de um processo judicial, e “à custa de”, no singular com crase, que significa “por causa de”, “por meio de”, “às expensas de”... O sentido que queremos dar no laudo é de causa e efeito, como "hidronefrose à custa de cálculo impactado no ureter", situação em que a hidronefrose ocorreu por causa do cálculo. À custa significa também quando alguém sustenta outra pessoas, como “viver à custa dos pais”. Mas, “às custas”, com crase e no plural, não existe!
“Oponente”
As definições de oponente no dicionário são: adversário, competidor, inimigo, opositor, rival, concorrente... Sendo assim, “margens articulares oponentes” significaria que uma margem é rival da outra! Em muitos casos não precisamos usar nenhuma palavra extra, pois ao localizarmos a alteração a informação já está implícita: nas margens de L4-L5, com hífen, só pode ser na margem inferior de L4 e superior de L5, pois são as únicas que limitam o intervalo entre as vértebras. Mas, se quiser reforçar, outras opções seriam “apostas” (particípio passado de apor – colocado junto ou sobre) ou “correspondentes”, mas não “oponente”. E “contíguo”? “Contíguo” significa o que se toca por um lado, como, por exemplo, “quartos contíguos”, que têm uma parede em comum. Ou uma lesão no subcutâneo contígua com uma fáscia muscular. Ou seja, para ser contíguo tem que encostar em algum ponto!
“O errado é errado mesmo que todo mundo esteja fazendo. O certo é certo mesmo que ninguém esteja fazendo”.
Este texto lembra o Paulo Freire, o "guru" da edução durante a presidência do presidiário e sua pupila. Este "educador" pregava que não havia erro na linguagem ou escrita das pessoas, dentro de um contexto social. Mesmo que pessoas de uma comunidade utilizassem expressões próprias para aquela região, como "nóis vai", deve-se considerar como CORRETO o uso do termo. Pelo que eu li, a autora do BLOG deve ser, então, militante de "direita"...enfim, não vamos discutir. O que devemos acrescentar é que os bossais do Paulo Freire e seus adeptos (PT, PCdoB, PSOL, PSDB, por que não?) não levam em conta que o uso da linguagem culta é também um fator de ascensão social. Ou em uma entrevista de emprego,…