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Localize corretamente!



No blog de junho/21 ("Tá errado?!") vimos alguns erros de português frequentes em laudos radiológicos, o que pode afetar a credibilidade do radiologista. Outra fonte de confusão comum são os termos relacionados à localização de lesões ou alterações. Esses são os que encontro com maior frequência:


“Topografia”

Topografia vem do grego, “topo” = lugar e “grafia” = descrição. Por definição, é a ciência que estuda os acidentes geográficos definindo a sua situação e localização. Seu objetivo é mapear e coletar dados precisos que ajudam em áreas como construção civil, demarcando obras e redes de água/esgoto, sistema viário, mineração, indústria, análise de terraplanagem, etc. Ou seja, falar “na topografia” não é a mesma coisa que falar “no lugar”. Nós ficamos apegados a essa palavra de tal forma que parece que não vamos mais conseguir localizar nada, mas na maioria dos casos a palavra topografia é totalmente desnecessária, bastando só falar a localização: nas frases “rotura na topografia da inserção do supraespinhal”, “corpo livre na topografia do recesso gastrocnêmio medial-semimembranoso” e “edema na topografia do músculo adutor curto” a palavra topografia pode ser suprimida, ficando “rotura na inserção do supraespinhal”, “corpo livre no recesso gastrocnêmio medial-semimembranoso” e “edema no músculo adutor curto”. E, se em alguma situação, você quiser colocar alguma palavra substituta, pode colocar no local, na loja, de permeio às fibras, no trajeto (“no local da cirurgia”, “na loja prostática”, de permeio às fibras musculares”, “no trajeto do ligamento”), etc. Existem várias alternativas à topografia! E contíguo e na projeção também são opções?


“Contíguo”

“Contíguo” significa o que se toca por um lado, como, por exemplo, “quartos contíguos”, que têm uma parede em comum. Seria o caso de uma lesão no subcutâneo em contato com a fáscia muscular, nesses casos podemos falar que a lesão é contígua. Ou seja, para ser contíguo tem que encostar pelo menos uma parte!


“Na projeção”

“Na projeção” é um termo radiológico, porque nas radiografias as estruturas se projetam umas sobre as outras na imagem. Ao identificarmos uma imagem esclerótica sobre o corpo vertebral L4, dependendo das incidências obtidas não é possível determinar se a lesão se encontra realmente no corpo vertebral ou nas partes moles adjacentes, pois elas ficam projetadas na radiografia. Isso, entretanto, não ocorre nos métodos seccionais, como a tomografia computadorizada e a ressonância magnética. Dessa forma, é correto usar projeção nas radiografias quando não conseguimos determinar a localização precisa da alteração, mas não deve ser usado na tomografia ou na ressonância.


“Junto”

Muitas vezes esquecemos que “junto” quer dizer ao lado ou adjacente e falamos “lesão junto ao corno posterior do menisco medial” para uma lesão que está no corno posterior do menisco. Falar que uma alteração está junto ao corno posterior do menisco significa justamente o oposto, que ela não está no corno posterior do menisco: pode estar no corpo ou ao lado do menisco. Por isso, “junto” não deve ser colocado quando queremos dizer que a alteração está naquela localização.


“No” e “do”

Já vimos no texto do blog de março de 2021 e também no vídeo no YouTube que “em”, assim como “de” são preposições essenciais, que combinadas com um artigo formam “no”, “na”, “do” e “da”. E que usamos “em” quando queremos falar de maneira genérica, sem especificação, e “no” quando a localização é especificada. Além disso, “em, no, na” dão sentido de localização, enquanto “do, da” costumam ter sentido de posse, pertencimento. O correto é falar “cisto subcondral na faceta lateral da patela” porque o cisto está localizado NA faceta lateral que pertence à patela, portanto é a faceta lateral DA patela. “Cisto subcondral da faceta lateral na patela” já fica bem mais esquisito.


“Aonde ou onde”

Ambos são advérbios de lugar, mas existe uma diferença: “onde” indica o lugar em que algo ou alguém está, sendo usado com verbos que indicam permanência, ou seja, ausência de movimento, como estar, morar, ficar. Como exemplos, “não sei onde ele mora ou onde fica esse endereço”. “Aonde” também indica lugar, mas deve ser usado com verbos que indicam movimento e que são regidos pela preposição “a”, como chegar, ir e voltar. Por exemplo, “aonde você vai?”. Nos laudos, o correto é usar “onde”, porque geralmente nos referimos a onde está uma alteração ou lesão.


“Somos sempre levados para o caminho que desejamos percorrer”. Textos Judaicos





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