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Músculo tensor da fáscia sural

Caso gentilmente cedido pelo Dr. David Troncoso


Paciente do sexo masculino, 50 anos, realizou ressonância magnética (RM) do joelho que evidenciou estrutura anômala posterior:



Figura 1 (a-b): Imagens de RM do joelho no plano sagital nas ponderações DP com supressão de gordura (DP SG) (1a) e T2 (1b).



Figura 2 (a-d): Imagens consecutivas de RM do joelho no plano transversal nas ponderações DP com supressão de gordura de superior (2a) para inferior (2d)



Descrição dos achados


Figura 1 (a-b)’: Imagens de RM do joelho no plano sagital nas ponderações DP com supressão de gordura (1a) e T2 (1b) mostrando estrutura alongada entre os músculos do compartimento posterior (asteriscos) e o tecido subcutâneo que apresenta sinal hiperintenso em relação aos músculos tanto na ponderação DP SG (seta amarela) quanto na ponderação T2 (seta branca).


Figura 2 (a-d)’: Imagens consecutivas de RM do joelho no plano transversal nas ponderações DP com supressão de gordura de superior (2a) para inferior (2d) mostrando estrutura alongada (setas amarelas) posterior ao músculo semimembranoso (SM), lateral à junção miotendínea do semitendíneo (ST) e medial ao bíceps femoral (BF) no nível do fêmur distal e posterior à cabeça medial do gastrocnêmio (CMGc), onde se insere na sua fáscia posterior (seta amarela fina). GLGc – cabeça lateral do gastrocnêmio.



Discussão


Os músculos acessórios, também chamados de músculos anômalos ou supranumerários, são variantes anatômicas comuns, em geral assintomáticos, mas que podem ser confundidos com formações expansivas e causar sintomas, geralmente compressivos nos feixes vasculonervosos, principalmente quando localizados em túneis fibro-ósseos por ocuparem um espaço limitado onde habitualmente não teria nenhuma outra estrutura.


O músculo tensor da fáscia sural é um músculo anômalo raro, descrito em 1813 como um músculo supranumerário na região poplítea com origem, extensão e inserções variáveis. Sua real incidência não é completamente conhecida por ser um achado raro e geralmente incidental em exames de imagem e estudos anatomopatológicos em cadáveres, sendo encontrados apenas descrições esporádicas de casos na literatura. A presença do músculo tensor da fáscia sural foi associada a algumas outras variantes, como a um pequeno músculo acessório adicional mais inferior na fossa poplítea e a agenesia do extensor ulnar do carpo.


Em geral, se origina na porção distal do semitendíneo, ou, menos frequentemente, do semimembranoso ou da cabeça curta do bíceps femoral, que compõe os músculos isquiotibiais, sendo, portanto, também conhecido como músculo isquioaponeurótico.

Apresenta extensão variável e se insere na fáscia crural, no gastrocnêmio (geralmente na cabeça medial) ou na porção superficial do tendão calcâneo e não contribui significativamente para o movimento do joelho.


Sua inervação é feita habitualmente pelo componente tibial do nervo ciático. Entretanto, foram descritas algumas variações, como origem na margem posterior do fêmur e na linha áspera ao longo da cabeça curta do bíceps femoral com inervação pelo fibular comum.


Costuma ser assintomático, mas o paciente pode referir massa palpável ou apresentar sintomas secundários a compressão sobre as estruturas da fossa poplítea, sendo que a própria contração do músculo pode levar a neuropatia relacionada ao ciático, sural ou tibial.


Um papel potencial deste músculo acessório é a utilização como enxerto cirúrgico, assim como outros músculos acessórios.


Conhecendo a existência desse músculo e a anatomia normal da região poplítea, é possível identificar esse músculo tanto na ultrassonografia, quanto na ressonância magnética.


Os diagnósticos diferenciais dos músculos acessórios na região posterior do joelho são outras causas de compressão neurovascular e lesões expansivas, como:

  • Aneurisma da articular poplítea

  • Cisto de Baker

  • Tumores benignos e malignos nas partes moles


Outros músculos acessórios no joelho:

  • Semimembranoso acessório – localização semelhante, mas sua origem ocorre no semimembranoso e a inserção também costuma ser na cabeça medial do gastrocnêmio.


  • Terceira cabeça do gastrocnêmio – tem incidência estimada de 2 a 5% na população e tamanho variável. Possui origem na margem posterior da metáfise femoral, discretamente medial à linha média, localizado entre as cabeças medial e lateral do gastrocnêmio, com trajeto lateral e adjacente aos vasos poplíteos, que podem sofrer efeito compressivo. Costuma se inserir na cabeça lateral do gastrocnêmio. É importante a descrição deste músculo acessório nos casos de aneurisma da articular poplítea, uma vez que nos casos cirúrgicos o músculo anômalo deve ser ressecado para evitar compressão extrínseca sobre o enxerto.


  • Plantar acessório – tem incidência estimada de 6% na população segundo estudo em RM do joelho em 1000 indivíduos. Se origina junto do músculo plantar normal ou da cabeça lateral do gastrocnêmio e pode se inserir no trato iliotibial ou no retináculo patelar lateral.


  • Poplíteo acessório – descrito em 2004, com origem comum com a cabeça lateral do gastrocnêmio, apresentando trajeto anterior aos vasos poplíteos e inserção na cápsula posteromedial do joelho.


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Olewnik Ł, Gonera B, Kurtys K, Tubbs RS, Polguj M. "Popliteofascial muscle" or rare variant of the tensor fasciae suralis? Folia Morphol (Warsz). 2021;80(4):1037-1042. doi: 10.5603/FM.a2020.0138.


Tsifountoudis I, Kalaitzoglou I, Papacostas E, Malliaropoulos N. Tensor Fasciae Suralis Muscle: Report of a Symptomatic Case With Emphasis on Imaging Findings. Clin J Sport Med. 2018 Jul;28(4):e79-e81. doi: 10.1097/JSM.0000000000000448.


George BM, Nayak SB, Marpalli S. Clinical importance of tensor fasciae suralis arising from linea aspera along with short head of biceps femoris: a rare anomaly. Anat Cell Biol. 2019 Mar;52(1):90-92. doi: 10.5115/acb.2019.52.1.90.


Tubbs RS, Salter EG, Oakes WJ. Dissection of a rare accessory muscle of the leg: the tensor fasciae suralis muscle. Clin Anat. 2006 Sep;19(6):571-2. doi: 10.1002/ca.20205.


Montet X, Sandoz A, Mauget D, Martinoli C, Bianchi S. Sonographic and MRI appearance of tensor fasciae suralis muscle, an uncommon cause of popliteal swelling. Skeletal Radiol. 2002 Sep;31(9):536-8. doi: 10.1007/s00256-002-0496-x.


Chason DP, Schultz SM, Fleckenstein JL. Tensor fasciae suralis: depiction on MR images. AJR Am J Roentgenol. 1995 Nov;165(5):1220-1. doi: 10.2214/ajr.165.5.7572507.





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