Conforme já discutido no post “Livro x filme”, uma boa descrição é aquela que permite que a alteração seja visualizada corretamente, mesmo sem a imagem disponível. Por isso, é importante que os termos que usamos nos laudos radiológicos sejam precisos e universalmente entendidos. Entretanto, vemos com frequência que alguns termos são desvirtuados do significado original e passados de um radiologista para outro, que os incorporam aos laudos sem perceber que não estão os usando adequadamente. Vamos discutir aqui alguns termos utilizados principalmente na descrição dos tumores em musculoesquelético:
Limites
Limite é definido como uma linha real ou imaginária que delimita um território de outro. Ou seja, quando um limite é bem definido eu sei exatamente onde uma área termina e outra começa, como nessa foto de uma piscina onde eu consigo determinar facilmente a área rasa do deck molhado, a área mais funda e a área da cascata, porque elas estão bem delimitadas. Mas, nem toda piscina é assim, existem aquelas onde não conseguimos precisar onde termina exatamente a área rasa e começa a área funda. Com as lesões ocorre a mesma coisa: existem situações em que conseguimos determinar exatamente os limites entre a lesão (ou parte da lesão) e o tecido normal, e em outras não. Portanto, ao descrever o limite de uma lesão devemos sinalizar se ele é bem definido, parcialmente definido ou mal definido. Às vezes existe alguma característica que ajuda a identificar o limite, como uma cor ou material diferente. No caso das lesões ósseas isso pode ocorrer pela presença de um halo de esclerose, por exemplo.
São os limites que caracterizam a “zona de transição” de uma lesão, o que está relacionado à sua velocidade de crescimento. Quando ele é bem definido, isso significa que a zona de transição é estreita, que indica crescimento lento, principalmente quando está presente um halo de esclerose. Quando a delimitação não é tão precisa, trata-se de uma zona de transição larga, o que ocorre nas lesões de crescimento rápido e, portanto, mais agressivas.
Margem
É definida como uma faixa exterior que circunda algo, sendo sinônimo de “borda”. Por exemplo, nessa piscina da foto os limites são bem definidos e há uma borda larga, de madeira. Seria, então, a interface entre a lesão o e tecido normal e indica o tipo de destruição óssea.
Quanto mais completa e espessa a margem, mais lento é o crescimento e menor a agressividade da lesão. Foram descritos 3 padrões principais:
Geográfico – as lesões podem ser arredondadas, ovais ou lembram o desenho de um país ou estado em um mapa, com margem bem demarcada. As lesões geográficas apresentam 3 subtipos:
- Com zona de transição estreita e halo de esclerose (o tipo menos agressivo, quase sempre benigno). O halo de esclerose pode circundar toda a lesão, ou em algumas partes a lesão pode gradualmente se fundir ao osso adjacente.
- Com zona de transição estreita sem halo de esclerose (tipo indeterminado, podendo ocorrer em lesões benignas ou malignas)
- Com margens indistintas e zona de transição larga (tipo de comportamento agressivo, mais comum em lesões malignas).
Moteado – conhecido também como padrão em “roído de traça” porque parece com o aspecto de um tecido que foi roído por uma traça, onde tem áreas roídas entremeadas com o tecido normal. É uma característica de lesão mais agressiva.
Permeativo – É o padrão mais agressivo de todos, em que as margens da lesão são mal definidas e de difícil diferenciação com o osso normal circunjacente, podendo passar despercebidas ou terem as dimensões subestimadas nas radiografias. Esse padrão é caracterizado por numerosas áreas líticas alongadas paralelas ao eixo longo do osso.
Contorno
Contorno é definido por uma linha que delimita exteriormente um corpo. Ele também pode ser bem definido, quando conseguimos traçar a lápis, ou mal definido. Por isso que há alguma confusão entre limites e contorno, uma vez que o contorno só pode ser bem definido quando o limite também for bem definido, já que não podemos contornar um objeto sem identificar seus limites. Mas limite e contorno não são sinônimos. Enquanto que o limite tem relação com a diferenciação entre a lesão e o tecido normal adjacente, o contorno tem relação com as características da margem da lesão. E, obviamente, só poderemos caracterizar o contorno quando conseguimos defini-lo, como nesse objeto à esquerda, em que conseguimos traçar seu contorno em azul. Ou seja, quando o limite da lesão é bem definido conseguimos analisar seu contorno, que pode ser regular, irregular, lobulado, serrilhado, interrompido, etc. Lembrando que cada objeto tem um único contorno, por isso devemos emprega-lo no singular. Uma lesão pode ter vários limites (superior, inferior, anterior, etc.), mas só um contorno!
Veja com mais detalhes os esquemas diferenciando os tipos de limite, margem e contorno na página "Notas & medidas - Tumores" =)
"Ninguém é capaz de escrever bem se não sabe bem o que vai escrever". Câmara Junior.
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